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Delegado divulga carta emocionante após atender ocorrência de tragédia envolvendo uma criança de 06 anos de idade

A criança João Pedro Santos Andrade de 06 anos, morreu na manhã de sexta-feira (24) após cair da garupa de uma motocicleta e ser atropelado por um caminhão. A tragédia aconteceu em Nossa Senhora da Glória, nas proximidades do matadouro, no Alto Sertão sergipano.

O menino estava acompanhado da mãe, quando a mesma teria caído após perder o equilíbrio da motocicleta e o caminhão que vinha logo atrás passando por cima do corpo da criança provocando sua morte no local do fato. O caso cochou a comunidade da localidade, inclusive o delegado de Polícia Civil Antônio Francisco, que atendeu a ocorrência. Emocionado, o delegado escreveu uma carta de apoio à família de João Pedro:

Leia o teor da carta

Sexta-feira, dia 24 de julho de 2020, Nossa Senhora da Gloria -SE, mais um dia normal de plantão, assim pensei, quando saí de casa e beijei minha esposa e meus filhos. Ao chegar na Depol, recebo a informação de um acidente com vítima fatal em uma estrada próximo ao matadouro, vítima 06 anos de idade, começava o meu testemunho de uma tragédia.

Chegando ao local, cena característica de acidente, curiosos, carros parados, SAMU no local, desço da viatura e observo a tristeza nos olhos de todos que ali estavam a superar a curiosidade, está sempre presente nesses cenários.

Ao me aproximar do local, me esforçando para ser objetivo e técnico, observo um corpo infantil coberto, uma jovem consternada, sentada na estrada de chão batido, amparada por familiares e ao lado dela um jovem rapaz atônito com a cena, demonstrando uma letargia silenciosa, mas que aos meus ouvidos ecoou como um pranto dos mais despertados que ouvi na minha vida.

Sigo em direção a eles, cumprimento alguns conhecidos que estavam no local, me aproximo do triste casal e a Jovem mãe me reconhece e aos prantos se lamentar: “Dr. Francisco que dor terrível, meu filhinho, Doutor era da idade do seu mais velho, olhe ele ali onde está Doutor, apontando para o corpinho desfalecido coberto por um cobertor fino que o privava do sereno da noite e dos olhares curiosos.

A jovem mãe desesperada continuou a dialogar comigo e me fez um pedido ” Doutor, pelo amor de Deus deixe eu levar meu filho daqui, olhe ele ali como está, mais uma vez me apontando para o corpo já sem vida. Confesso que me tremi por dentro, uma vontade imensa de atender aquele pedido, de abraçar aquela família, de chorar com eles aquela perda… já fiz inúmeros locais de crime, mas poucos mexeram comigo como este.

A esta altura os competentes polícias que comigo estavam já tinham identificado a autoria e me informavam e esperavam as determinações do que seria feito dali em diante, mas a tristeza já havia se instalado em minha alma, e as decisões dali em diante se tornaram um fardo.
Como ser técnico e objetivo se para isso teria que negar o pedido daquela pobre mãe desesperada? Não tive outra opção! Respirei fundo, respondi a ela que já havia acionado o IML e a criminalista para a realização das perícias de estilo que o caso exigia.

Diante da decisão tomada, uma tristeza profunda tomou conta de mim, e em gesto de empatia toquei nos ombros dos pais pesarosos e pedi em minha mente que Deus dessa conformidade aquela família e recebesse aquele anjo em seus braços e me afastei. Neste momento os polícias já me esperavam para a continuidade das diligências.

Ainda no local, já na minha saída um senhor se aproxima e se identifica como avô da criança e me informa que tinha passado a tarde com ele no terreno, e descreveu o quão inteligente e especial era aquele garoto, me agradeceu a atenção de ter estado no local, mas era consciente de que nada do que eu fizesse iria trazer seu netinho de volta, apertou minha mão e saiu para amparar os seus e chorar com eles a sua perda.

Depois, realizo as diligências, identificamos a autoria, documentei todo o trabalho da noite, mas a tristeza permanecia em minha alma. Já na Delegacia pude refletir um pouco mais a situação e constatei o tamanho do sofrimento daquele casal, que naquele momento, não promoveu acusações a ninguém, não blasfemou, não fizeram outra coisa senão chorar a sua perda e tentar obter forças para entender e se resignar com os desígnios de Deus para seu anjo. Mais tarde, IML e criminalista encerraram seus trabalhos, e o cenário se desfez, mas o sofrimento ainda se prolongará.

A família na manhã de hoje deve ter ido retirar o corpo e promover a última despedida ao seu anjo. Começa a madrugada, movimento da Delegacia diminui, volto para a minha casa, entro no meu quarto e vejo minha esposa e o meu filho mais velho dormindo juntos, aproveitando solidão da madrugada rezei a Deus pela alma de João Pedro, pedi pelos seus familiares que Deus desse conformidade a todos eles, e agradeci e pedi que o Senhor abençoasse e protegesse os meus. Por fim, pude fazer o que desde cedo estava com vontade de fazer, rezei e chorei…

Deus abençoe João Pedro e sua família! Meus sinceros sentimentos pela tragédia ontem ocorrida!

Antônio Francisco e família!

Da Redação: Gilson de Oliveira
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